Apesar dos 3.700 quilómetros, e três fusos horários, que separam Washington D.C. e Los Angeles, a capital política e a do entretenimento têm sido parceiros naturais na produção de algumas das maiores obras-primas do cinema. Nesta election season deixamos algumas recomendações de filmes para os political junkies que querem aquecer motores para novembro.

 

MR. SMITH GOES TO WASHINGTON (1939)
É difícil correr a lista de filmes de Frank Capra e escolher uma obra-prima em detrimento de outra, mas Mr. Smith Goes To Washington estará certamente no topo dos melhores filmes de todos os tempos sobre política. Este clássico foca-se num homem simples do interior dos Estados Unidos que é levado para Washington D.C. pelas mãos do aparelho partidário para preencher um lugar no Senado, nas esperança de que seja uma marioneta ao serviço de poderes obscuros. Quando Jefferson Smith (protagonizado por James Stewart) se apercebe do que se passa, luta para defender o seu bom nome e a instituição contra a corrupção. Entre as cenas memoráveis do filme está um longo filibuster, em que Mr. Smith fala durante horas para evitar a aprovação de uma lei.

 

THE MANCHURIAN CANDIDATE (1962)
Um assombroso filme de “ficção-política”, que reflecte a paranóia conspirativa e o clima de guerra fria do começo da década de 60 (é o tempo da crise dos mísseis de Cuba), que é também o melhor filme de Frankenheimer e que deu a Frank Sinatra um dos maiores papeis dramáticos da sua carreira. Adaptado de uma novela de Richard Condon sobre um prisioneiro da guerra da Coreia, que regressa após uma lavagem ao cérebro e se torna instrumento de um atentado a um candidato à presidência. Este é um filme que respira política, e com um desempenho magistral de Angela Lansbury, que desempenha o papel da mãe do candidato que busca perturbar o processo político através da violência.

 

DR. STRANGELOVE OR: HOW I LEARNED TO STOP WORRYING AND LOVE THE BOMB (1964)
Considerada uma das melhores comédias negras de sempre, o filme mais engraçado sobre a era nuclear e uma das obras-primas de Stanley Kubrick, está recheado de interpretações memoráveis, que se integram num cenário de insanidade mal contida nesta comédia de enganos iluminada por cenas satíricas. A história começa quando o general Jack D. Ripper (Sterling Hayden) – que comanda a base da força aérea de Burpelson -, obcecado com a ideia de que os comunistas estão a tentar roubar os “preciosos fluidos corporais” dos norte-americanos, entra em loucura total e ordena um ataque imediato à União Soviética. O Presidente dos Estados Unidos (Peter Sellers) reúne-se, em desespero, com os seus conselheiros, que incluem o general Buck Turgidson (George C. Scott) e o cientista ex-nazi Dr. Estranho Amor (também interpretado por Peter Sellers). Estes não vêem outra solução senão deixar que os soviéticos abatam os bombardeiros americanos, o que constitui uma “perda aceitável” para as estatísticas. Entretanto, o embaixador soviético (Peter Bull) informa-os que a URSS possui um “Doomsday Device” – um engenho prestes a lançar bombas nucleares mal sejam atacados.

 

ALL THE PRESIDENT’S MEN (1976)
Os Homens do Presidente é um dos mais famosos filmes de política e que marcou uma geração. O filme retrata a investigação da dupla de jornalistas Bob Woodward (Robert Redford) e Carl Bernstein (Dustin Hoffman) sobre o caso de Watergate para o Washington Post, naquela que é simultaneamente uma das mais importantes e consequentes investigações jornalísticas, e um dos maiores escândalos da política norte-americana. Após a divulgação das provas de espionagem política – em particular das suas próprias gravações na sala oval -, e face ao risco de ser destituído, o Presidente Richard Nixon pede demissão e dá o lugar ao seu vice-presidente, Gerald Ford. É um dos marcos da história da política norte-americana, uma obra-prima do jornalismo – sobre o melhor e o pior da profissão (e cunhou a expressão “follow the money” que nunca foi proferida pelo garganta funda, nem escrita por Bob Woodward ou Carl Bernstein).

 

THE AMERICAN PRESIDENT (1995)
Andrew Shepherd (Michael Douglas) é eleito Presidente dos EUA já depois de ter enviuvado. Três anos depois, sempre à frente dos destinos da Casa Branca, o chefe de Estado sente necessidade de voltar a namorar. É por esta altura que entra em cena a bela Sydney Ellen Wade (Annette Bening), a candidata perfeita a primeira-dama, não fosse um pequeno senão: pertencer a um forte “lobby” ambientalista que discorda de algumas das políticas do Presidente. É um dos primeiros filmes que retrata a genialidade da escrita de Aaron Sorkin, no que parece ser o aquecimento para a sua obra-prima da televisão, a série “The West Wing”.

 

WAG THE DOG (1997)
Adaptado da obra homónima de David Mamet, “Manobras na Casa Branca”, apresenta uma visão crítica sobre a presidência e sobre as campanhas puritanas anti-Clinton. A menos de duas semanas das eleições, um escândalo ameaça a candidatura do presidente a um segundo mandato. Mas antes do incidente poder causar danos irreversíveis, um misterioso homem é chamado à Casa Branca para resolver o problema. O homem é Conrad Brean (Robert DeNiro), cuja profissão consiste em manipular a imprensa e, através dela, o povo americano. Brean consegue desviar as atenções do escândalo do presidente para uma história mais importante: uma guerra. Com a ajuda de Stanley Motss (Dustin Hoffman), um famoso produtor de Hollywood, e da sua equipa, Brean reúne uma equipa de crise única, que vai orquestrar um conflito global diferente de todos os que já se viram na CNN. Dustin Hoffman foi nomeado na categoria de melhor actor principal para o Óscar de 1998..

 

FROST/NIXON (2008)
Mais um retrato deste que é um dos períodos mais marcantes da história da Presidência dos Estados Unidos, que transforma num drama histórico a história por detrás as entrevistas concedidas em 1977 por Richard Nixon ao jornalista britânico David Frost. Num período conturbado após a renúncia do cargo de Presidente, Richard Nixon encara estas entrevistas como uma oportunidade para fazer ressurgir a sua carreira política, mas Frost, insatisfeito, luta por uma confissão da participação, do então Presidente dos EUA, no escândalo de Watergate.

 

THE IDES OF MARCH (2011)
Stephen Meyers (Ryan Gosling) é o consultor de campanha do governador Mike Morris (George Clooney), que se prepara para a corrida às presidenciais dos EUA. Decidido a fazer vencer quem ele acredita sinceramente ser o melhor representante do seu país, Stephen está totalmente comprometido com aquela campanha. Porém, dada a manipulação e artifícios que se multiplicam ao seu redor, o homem vai ter de encarar a realidade a frio e mudar a sua maneira de ver os homens e o seu trabalho. Entre o que é moralmente correto e o que na verdade esperam dele, vai envolver-se num jogo onde desejaria nunca ter entrado. Realizado por George Clooney, é a adaptação da peça Farragut North, escrita, em 2008, por Beau Willimon, baseada na campanha às presenciais de 2004 do democrata norte-americano Howard Dean. O título do filme é uma alusão ao 15 de Março do calendário romano, dia em que Júlio César foi assassinado por um grupo de conspiradores, no ano de 44 a.C.

 

LINCOLN (2012)
Abraham Lincoln nasceu a 12 de fevereiro de 1809, na cidade de Washington. Liderando uma nação instável durante o difícil período da Guerra Civil Americana, era um homem determinado e com ideias precisas sobre governação, algo que foi demonstrando desde a sua eleição, em 1860, até ao seu assassinato, em abril de 1865. Com realização de Steven Spielberg e com Daniel Day-Lewis como protagonista, esta é a adaptação cinematográfica da obra “Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln” escrita, em 2005, por Doris Kearns Goodwin. Mais do que uma biografia, este filme é um exemplo da genialidade política de Lincoln enquanto estratega política, da complexidade e do lado negro do processo legislativo – os compromissos, as ameaças e a corrupção -, quando nos últimos quatro meses da sua vida se dedicou à aprovação pela Câmara dos Representantes da 13.ª Emenda à Constituição americana, que resultou numa das mais importantes transformações sociais dos EUA: a abolição da escravatura.

 

LBJ (2016)
Membro do Partido Democrata do Texas (EUA), Lyndon B. Johnson (1908-1973) fez parte da Câmara dos Representantes entre 1937 e 1949 e do Senado entre 1949 e 1961. Na corrida para a presidência de 1960, depois de perder as primárias democratas, aceitou a oferta de John F. Kennedy para ser seu vice-presidente. Em 1963, após o assassinato de Kennedy, Johnson acaba por assumir o poder, convertendo-se no 36.º Presidente dos EUA. Com o país em luto pela perda do chefe de Estado, Johnson vê-se obrigado a honrar o legado de Kennedy, muito especialmente ao instituir a histórica Lei dos Direitos Civis, que pôs finalmente fim a diversos sistemas de segregação racial nos EUA. Apesar de todas as dificuldades, a forma como serviu os seus cidadãos valeu-lhe a reeleição, a 3 de Novembro de 1964, com um dos resultados mais expressivos de sempre sobre Barry Goldwater, o adversário republicano. Durante os primeiros anos do seu Governo, a economia cresceu, com milhares de pessoas a saírem da pobreza devido às suas acções económicas e sociais. Mais tarde, ao aumentar a participação dos EUA na Guerra do Vietname, foi perdendo popularidade, o que o levou a desistir da corrida presidencial em 1968. LBJé um drama sobre a convulsão política que Lyndon B. Johnson enfrentou quando foi colocado na presidência após o assassinato de Kennedy.

 

VICE (2018)
Vice (2018), é um drama biográfico sobre Dick Cheney, vice-presidente de George W. Bush, sobre o seu percurso na política, desde estagiário no Congresso, passando pela parceria com Donald Rumsfeld, os anos enquanto chefe de gabinete de Gerald Ford, e a subida às posições onde exerceu mais poder – secretário da Defesa em 1989 e vice-presidente em 2001. É um filme sobre ambição política, sobre o lado negro da política americana e sobre algumas das mais importantes decisões da política norte-americana – e com impacto em todo o mundo –, como a guerra do Iraque.