Helena Halpern, estudante de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade NOVA de Lisboa, ficou em segundo lugar, ex aequo, no POV – Point of View, um concurso da FLAD que premiou os melhores textos de jovens estudantes sobre as eleições presidenciais dos EUA de 2024.

Helena Halpern, de 19 anos, e atualmente a frequentar o segundo ano da licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais na SciencesPo, em Paris, ficou em segundo lugar, ex aequo, no concurso POV – Point of View com o texto “As eleições americanas e a competição tecnológica”. A aluna vai receber um prémio monetário de 1.000 euros.

Leia o artigo na íntegra abaixo:

Com as eleições americanas à porta, os mais variados temas da política internacional são trazidos para debate. O que não faltam são projeções de como o mundo vai acabar se os eleitores americanos puseram a cruz à frente do nome errado. Da guerra na Ucrânia às alterações climáticas, são muitos os sinais de catástrofe eminente. Entre todas as portas pelas quais o fim do mundo pode entrar, há uma que merece especial atenção pelas suas subtilezas: a competição tecnológica.

Se recuarmos até ao mandato de Trump, podemos constatar a escalada na competição entre os EUA e a China, mais concretamente após o lançamento da primeira NSS, que viria a marcar uma mudança de paradigma nas relações entre os dois  países. A passagem de uma política engagement-based para competition-based iniciou  uma corrida tecnológica. Esta disputa levou à adoção da filosofia move fast and break things, onde as duas potências produzem e comercializam tecnologias pouco estudadas que põe em perigo os consumidores e o planeta.

Sob a presidência de Trump, o termo decoupling ilustrou o desejo de chegar a um estado de independência completa relativamente ao mercado tecnológico chinês. Com este objetivo em mente, Trump lançou sanções contra produtores chineses e investiu num programa de desenvolvimento tecnológico a nível doméstico, dispensado iniciativas anteriores de cooperação entre as duas potências.

Na presidência de Biden, a partir de 2020,  o de-risking substituiu o decoupling como a nova buzzword. Embora este termo tenha uma conotação mais leve, as ações de Biden foram mais uma continuação do que uma rutura. Quando subiu ao poder, a estratégia virada para a competição parecia ter chegado a um ponto de não retorno. Mesmo assim, houve várias iniciativas que procuraram acalmar as tensões entre os dois países. Na presidência de Biden, foram anunciados projetos fundamentais para garantir a segurança no desenvolvimento de tecnologias. Aliás, ainda este ano, Xi e Biden declararam que iam promover a cooperação entre especialistas chineses e americanos no âmbito de limitar os perigos da IA.

Se olharmos para o futuro, vemos que, independentemente do resultado das eleições, o próximo Presidente dos Estados Unidos estabelecerá como objetivo vencer a corrida tecnológica. No entanto, há uma diferença essencial entre as posições dos candidatos: o grau até ao qual eles estão dispostos a escalar a competição. Trump fala de decoupling total, o que, para além de perigoso, é irrealista, dado que, num mundo globalizado, os setores tecnológicos chineses e americanos estão fortemente interligados. O desejo de Trump, se posto em prática, poderá levar ao desenvolvimento desregulamentado de certas tecnologias, e à estagnação na evolução de setores que dependem da cooperação entre potências. Biden, ao falar de de-risking, parece ser apologista de um modelo mais moderado, através do qual visa ganhar independência em setores específicos, permanecendo aberto à cooperação noutros.

Assim, a escolha dos americanos pode definir um destes cenários. Um primeiro em que se dá uma escalada na disputa, levando ao aumento de tensões no mundo e ao desenvolvimento desregulamentado e prejudicial da tecnologia. Ou um segundo, em que as tecnologias servem como um veículo de cooperação. De qualquer forma, uma coisa é clara: a ordem global está a mudar e a tecnologia tem um papel central em definir os seus novos eixos.