Se há algo que a pandemia tornou evidente é o papel central que a ciência e os cientistas têm nas nossas vidas. Esta semana, conversamos com Maria do Carmo Fonseca, cientista que tem dedicado a sua carreira em prol da descodificação da informação genética das células humanas, para melhor compreensão de doenças causadas por erros da natureza e do famoso RNA que permitiu o desenvolvimento da primeira vacina para a COVID-19.

Foi a primeira mulher cientista a receber individualmente o prémio Pessoa em 2010, a primeira portuguesa a assumir a liderança da RNA Society, recipiente de numerosos prémios pelo seu trabalho científico, Maria do Carmo Fonseca é uma das mais consagradas cientistas portuguesas.

Em conversa com o jornalista Filipe Santos Costa, a Presidente do Instituto de Medicina Molecular e Professora Catedrática da Faculdade de Medicina da ULisboa, fala sobre a sigla do momento, RNA, que permitiu o desenvolvimento da primeira vacina para a COVID-19, sobre a ciência em Portugal, a sua experiência nos Estados Unidos e a discussão ética que se seguirá com o progresso do desenvolvimento científico.

“A ideia de fazer vacinas RNA já vinha de há alguns anos, não para doenças infecciosas, mas para o cancro. As descobertas que nós próprios estamos a fazer no sentido de reverter o envelhecimento (…) também são mediadas pelas moléculas de RNA.” – Maria do Carmo Fonseca

Sobre os Estados Unidos, Maria do Carmo Fonseca lembra o papel central que o país teve na criação de uma cultura e de criatividade que permitiu o progresso científico, ao ponto de se tornar absolutamente essencial na carreira de qualquer cientista de renome.

“Sem dúvida que os EUA foram pioneiros em criar este caldo de cultura que facilita a criatividade científica. O processo científico é um processo muito criativo, porque para se descobrir algo novo nós não podemos estar demasiado focados naquilo que estamos à procura. (…) Esta capacidade de ultrapassar este medo do risco foi sem dúvida o que marcou os EUA durante o século XX, e de tal forma que nenhum cientista europeu e mesmo asiático, nenhum cientista conseguia ter uma grande carreira de sucesso, a nível mundial, se não tivesse tido um período de treino nos EUA.” – Maria do Carmo Fonseca

Quanto a Portugal, a cientista é clara. Durante anos o país deixou sair os seus cérebros porque não tinha à disposição os recursos para os manter, em especial instituições de excelência para prosseguirem na sua carreira. Mas essa fase terá passado, e agora está na altura de tentar atrair cientistas estrangeiros.

“Passámos a fase em que houve um êxodo das nossas mentes brilhantes para o estrangeiro porque não havia institutos de investigação de topo em Portugal e passámos muitos anos a recuperar os investigadores portugueses de volta a Portugal. Estamos a chegar a uma fase onde já temos institutos de excelência, e agora deveríamos começar a apostar em atrair para Portugal outras mentes brilhantes de outros países onde esses institutos de excelência não existem.” – Maria do Carmo Fonseca

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