A eleição do novo Presidente dos Estados Unidos aproxima-se, mas a pandemia suspendeu quase por completo o que se antecipava vir a ser um ano de intensa atividade política. O luso-descendente Lee Neves, estratega político na Califórnia, explica como a pandemia da COVID-19 está a revolucionar as campanhas.

Aquela que foi uma das mais contestadas primárias no Partido Democrata, e certamente a que mais pretendentes teve na história dos democratas, estava a aquecer com os primeiros votos no início do ano. Antecipava-se uma corrida muito disputada entre Joe Biden, o antigo vice-presidente de Barack Obama, e Bernie Sanders, o senador do Vermont que representa a ala mais à esquerda do partido.

Joe Biden ganhou uma vantagem decisiva na Super Tuesday e nas duas votações seguintes, quando, inesperadamente, a pandemia praticamente parou a campanha.

A manifestação de apoio no comício do Texas pelos candidatos desistentes, Pete Buttgieg e Amy Kloubachar, que haviam sido decisivos para vencer no Texas, ficaram num passado que parece longínquo, e momentos que seriam fulcrais para dar um impulso ao candidato dos democratas passaram a ser feitos através de um computador.

Sem solução à vista e muitas dúvidas sobre o futuro, quem está por detrás das campanhas está a tentar adaptar-se, sem qualquer guião, para mais um verão quente na política norte-americana.

Viragem radical na forma de fazer campanhas

Lee Neves é um consultor político na Califórnia, onde é dono e gestor da Cross Currents LLC, uma empresa especializada no desenvolvimento e gestão de campanhas eleitorais. Os seus pais emigraram dos Açores para o Central Valley, depois de se casarem.

Lee Neves, Dono e gestor da Cross Currents LLC

Com uma história de sucesso desde que fundou a sua empresa, e duas décadas de experiência no sector, Lee Neves cria campanhas desde o momento da decisão da candidatura até ao dia das eleições. Mas com a pandemia, viu-se confrontado com uma situação inédita: um ano de eleições com as pessoas fechadas em casa.

“[A pandemia] mudou completamente a dinâmica das campanhas eleitorais. Muito do core de fazer uma campanha passa por muitas interações porta-a-porta, pessoa-a-pessoa, em localidades específicas, comícios e eventos para a angariação de fundos. Agora, o cenário mudou completamente” – Lee Neves.

As medidas colocadas em prática para limitar a propagação da COVID-19 obrigaram ao distanciamento social e ao cancelamento de grandes eventos, essenciais para uma campanha ganhar força e entusiasmar os eleitores. Perante este cenário, muito está a ser feito a partir de casa.

“Muitos dos meus clientes optaram for continuar fazendo muitos live-chats no Facebook com os eleitores do seu distrito, que marcamos com data e hora certa, para que as pessoas sabiam que vai acontecer. Esses eventos têm tido bastante sucesso”, explicou.

Mesmo a angariação de fundos, fundamental para a viabilidade de uma candidatura num mercado muito disputado, passou para um mundo virtual, com os candidatos a pedir apoio financeiro em conferências através da plataforma Zoom. As mudanças são muitas e a situação é inédita.

“Muitos de nós [consultores políticos] estamos a aprender à medida que as situações surgem e a tentar adaptar-nos. Gosto de pensar que tenho feito um bom trabalhar em adaptar-me, mas no dia 3 de novembro [data das eleições] veremos”, disse.

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