Um projeto ambicioso, inovador e exigente do investigador da Universidade do Porto vai permitir medir o impacto das alterações climáticas nas duas costas do Atlântico Norte.
Mais de 2000 mil sensores, instalados em 85 praias ao longo da Costa Atlântica vão medir a temperatura da água da Guiné-Bissau à Noruega, passando pela Islândia e Gronelândia, até ao Ártico, e daí ao longo da Costa Oeste até ao Equador.
O investigador do CIBIO-InBIO da Universidade do Porto, Rui Seabra, venceu o FLAD Science Award Atlantic para desenvolver este projeto que pode mudar a nossa percepção global do Atlântico.
“O aquecimento global está a desenrolar-se e tudo indica que irá acelerar nas próximas décadas. Um aspeto importante, que é cada vez mais claro, é que este aquecimento não é uniforme. E sobretudo nas zonas costeiras temos vindo a detetar diferenças importantes nas taxas de aquecimento de local para local”, diz Rui Seabra.
O projeto, que vai ser desenvolvido em colaboração com três investigadores de universidades norte-americanas, prevê a instalação de sensores nas rochas junto do mar nestas 85 praias.
Até agora, os dados sobre a temperatura da água eram recolhidos por satélite. No entanto, os dados de satélite não têm resolução suficiente para analisar a temperatura junto à costa, porque captam uma parte da terra, contaminando assim os dados.
O investigador da Universidade do Porto descobriu que o erro na temperatura da água indicada por satélite junto à Costa em Portugal era considerável e criou um sistema mais fiável.
“Os dados por satélite têm uma nuance: É muito mais fácil medir a temperatura da água no mar alto do que no mar junto à costa, porque junto à costa o satélite capta parte da terra, e contamina os dados. Este erro não é um erro sistemático, não é igual em todos os sítios. Mas em Portugal o erro é muito grande”, explica o investigador.
Com este projeto, Rui Seabra vai conseguir instalar os novos sensores em toda a Costa do Atlântico Norte, permitindo aos investigadores saber a temperatura da água nessas zonas e onde os dados do satélite não estão corretos.
“Pela primeira vez vamos poder fazer uma validação a toda a escala do Atlântico Norte e perceber quais são os sítios onde sabemos que os dados de satélite são fiáveis, e onde não são, e advertir os investigadores para não os utilizarem”, explicou.
Inovação tecnológica e metodológica
A escala do trabalho é uma das características mais importantes, mas não é a única. O investigador desenvolveu a tecnologia de forma a garantir uma transmissão de dados mais fácil e mais fiável, permitindo dar uma vida mais longa ao projeto.
Os sensores passarão a estar instalados diretamente nas rochas, com um berbequim, o que vai evitar perda de sensores e de dados por roubo ou por destruição das ondas.
“O que está proposto é a implementação de uma rede de monitorização de temperatura e biodiversidade costeira que, quando implementada, será a maior do tipo em todo o mundo”.
Além da forma como estarão instalados, a nova tecnologia vai permitir que a transmissão de dados seja feita através de tecnologia contactless, ou seja, bastará uma pessoa com um telefone aproximar-se do sensor para recolher os dados, que são transmitidos automaticamente para o investigador.
“O que existe hoje em dia são equipamentos que obrigam à ligação de cabos para descarregar diretamente num computador. São processos mais complexos, difíceis de explicar a pessoas que não estão 100% investidas na mesma área”, explicou.
Com esta nova tecnologia, o processo vai poder ser continuado de forma mais simples ao longo do tempo, mesmo que os investigadores envolvidos na recolha de dados saiam do projeto.
Os sensores serão também mais resistentes e eficientes com esta nova tecnologia, o que fará com que as perdas ao longo de uma década – a duração prevista do projeto – sejam as mesmas que os investigadores sofriam em apenas um ano utilizando a tecnologia antiga.
Trabalho em grande escala com resultados práticos
Os dados que serão recolhidos pelos investigadores vão permitir ainda comparar a temperatura do mar e o impacto nas espécies-chave individualmente.
“Não é só aumento da cobertura, há todo um conjunto de questões que passam a ser respondidas e que só podiam ser respondidas em escalas grandes”, explica o investigador.
Isto significa que vai ser possível distinguir o que são avanços e recuos normais de determinadas espécies, devido a consequências de mudanças de temperatura.
O investigador diz também que estes dados vão permitir dar respostas às questões colocadas pelo Intergovernmental Panel on Climate Change das Nações Unidas com um grau de confiança muito maior do que o possível até agora.
Parabéns Rui Seabra e bom trabalho!
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