Antes de sabermos o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos, não poderemos avaliar se o ano de 2024 foi bom para a democracia, mas os resultados na Alemanha, em França e na Índia oferecem alguma esperança, defendeu Anne-Marie Slaughter, CEO do think tank New America, que esteve na FLAD para mais uma sessão do nosso ciclo dedicado às presidenciais americanas do próximo dia 5 de novembro.
É uma das grandes pensadoras de política externa americana e relações internacionais em Washington D.C., e uma das vozes mais respeitadas no que às questões fundamentais da sociedade americana diz respeito. Anne-Marie Slaughter foi a primeira mulher a ser nomeada Director of Policy Planning do Departamento de Estado dos EUA (em 2009, por Hillary Clinton). Foi professora na Universidade de Harvard, na Universidade de Princeton, é autora/editora de nove livros, e escreve regularmente para o Financial Times e Project Syndicate.
Em conversa com Márcia Rodrigues, jornalista da RTP, Anne-Marie Slaughter explicou que, apesar de na Alemanha e em França – peças-chave no funcionamento político da União Europeia –, o centro ter conseguido manter o poder, perdeu votos para partidos politicamente nos extremos – os de direita e os de esquerda.
“Nestes tempos de grande polarização em que vivemos é muito difícil ser-se moderado e tentar perceber os dois lados da questão, porque somos rapidamente abandonados por ambos os lados. Na Alemanha e em França, isto é algo que causa grande preocupação.” – Anne-Marie Slaughter, CEO New America.
Sobre as causas desta polarização, Anne-Marie Slaughter explicou que composição da sociedade norte-americana está a sofrer alterações profundas, e se há um grupo que pensa que o aumento de diversidade é exatamente o que faz dos EUA um grande país, há outro que olha para estas mudanças e pensa ‘já não reconheço este país’.
“Nos próximos 250 anos, num país que durante a maior parte da sua história foi 80% europeu-americano, não haverá um grupo étnico, religioso ou racial maioritário na sociedade americana. A política reflete isso mesmo. Imaginem passar de maioria clara para não ser uma maioria. Não pode surpreender a ninguém que cause instabilidade social.” – Anne-Marie Slaughter, CEO New America.
Sobre a relação de Donald Trump com ditadores e autocratas, a especialista explica que esta questão vai além de um fascínio por estes homens que governam com mão de ferro, apesar de o próprio já ter dito que os admira, e que está sim mais baseada numa ligação ideológica a um conservadorismo profundo.
“Se olharmos para [Vladimir] Putin ou [Viktor] Orbán, existe uma ideologia muito conservadora, que é anti-mulheres de várias formas, que se baseia num sentimento de que precisamos de regressar a uns ‘bons velhos tempos’, e que é contra muitas das mudanças culturais que se verificaram em termos de inclusão, orientação sexual e de igualdade de género. É aí que [Donald Trump] sente uma ligação com Putin, que não vê com Xi Jinping, que é um líder comunista”
Esta foi a segunda sessão de um ciclo de conferências dedicado às eleições presidenciais dos Estados Unidos que a FLAD desenvolve nos próximos meses com especialistas dos EUA, sobre temas relevantes para a política interna e externa daquele país e para a comunidade euro-atlântica, com o objetivo de promover o debate sobre a atualidade política americana e as implicações desta eleição dentro e fora dos EUA.
Com estas sessões, queremos contribuir para um maior conhecimento do sistema político e eleitoral americano, numa altura em que nos países europeus, e certamente em Portugal, se dedica tanta atenção à realidade política americana.
As sessões são moderadas pela jornalista da RTP, Márcia Rodrigues, atual editora de internacional do canal e ex-correspondente da RTP em Washington D.C., onde cobriu, entre outros, a administração de Donald Trump.
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