Que impacto terão no futuro as mudanças feitas pelas instituições do Ensino Superior para se adaptar à pandemia? Serão as mudanças permanentes? Com é que estas afetam os alunos e as universidades?
Sem luz ao fundo do túnel, quatro membros da academia juntaram-se esta quinta-feira, dia 9 de julho, para debater o futuro do Ensino Superior no quadro da pandemia COVID-19, na quarta edição dos webinars da FLAD: o What’s Next for Higher Education and Digital Transformation.
Pode ou não, o ensino à distância tornar-se a norma em vez de a exceção? Numa coisa os oradores estão de acordo: o mundo mudou. Falta perceber como.
“O mundo mudou. E mudou para sempre. No mundo da academia temos de perceber o que se está a passar no mundo.” – António Vaz Carneiro, Diretor do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
António Vaz Carneiro antecipa que, num mundo em que a oferta de cursos online aumenta de forma significativa, a concorrência passa a ser também das maiores universidades do mundo, o que vai obrigar a uma mudança na abordagem das universidades, que tem de se focar mais nos alunos. Mas há cursos, como é o caso da Medicina, que exigirão mudanças mais profundas devido à obrigatoriedade do ensino presencial.
“A questão que se põe no futuro não é tanto aquilo que a faculdade quer fazer, mas aquilo que o próprio sistema permite ou não que a faculdade faça.” – António Vaz Carneiro.
Maria do Céu Patrão Neves, Professora Catedrática de Ética na Universidade dos Açores, que foi eurodeputada, defende que a resposta imediata do Ensino Superior foi boa, porque tinha a capacidade técnica para o fazer, mas se estas mudanças forem permanentes, há muito mais a mudar do que criar plataformas online e dar aulas à distância.
“Se porventura optarmos por um modelo unicamente online e não um blending, nesse caso penso que o contacto com o aluno não é da mesma natureza. (…) Como professores perdemos os nossos recursos pedagógicos, que ultrapassam o verbal: a nossa postura, a postura do aluno, o olhar, o sentir.” – Maria do Céu Patrão Neves.
Arlindo Oliveira, Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico, também vê com muita dificuldade a manutenção da qualidade do Ensino num contexto em que aulas passam a ser completamente à distância.
“O ensino à distância é uma copia muito pálida do ensino presencial que tem lugar numa boa academia, numa boa universidade. O convívio (…) é uma coisa absolutamente essencial e que faz parte da educação do aluno. (…) Não sejamos ingénuos em pensar que este modelo puramente à distância pode substituir o modelo físico.” – Arlindo Oliveira.
Do outro lado do Atlântico, as mudanças já são profundas, mas ainda há muito por decidir. Paulo Zagalo e Melo, Pró-reitor para a Educação Global da Western Michigan University explicou que em 4 dias, a sua universidade passou 4500 cadeiras de regime presencial para online. Um ensino completamente online? Não acredita. Mas o online já não será apenas um pormenor.
“Quando comparávamos o total online com o presencial total tínhamos custos mais baixos para o online. Mas no futuro quase todos os programas terão cadeiras mistas. (…) O que não vai voltar a acontecer é o online voltar a ser acessório.” – Paulo Zagalo e Melo.
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