No primeiro debate da parceria FLAD/SIC–Expresso, dois grandes especialistas norte-americanos na área do comportamento eleitoral e previsões, Alan Abramowitz e Mary Stegmaier, explicaram o que torna estas eleições presidenciais norte-americanas únicas e como as regras que usávamos para avaliar as chances de um candidato podem não se aplicar.
Dois candidatos, um mundo de distância. As eleições norte-americanas estão à porta e estão a gerar muito interesse. Este ano, mais ainda devido ao perfil dos próprios candidatos – Donald Trump e Joe Biden -, mas também porque vivemos uma pandemia e, como consequência, uma crise económica de dimensões históricas.
Com tantas características inéditas, e depois de um falhanço tremendo em 2016, como é que podemos acreditar no que as sondagens nos dizem todos os dias ou como devemos olhar para elas. E que impacto têm questões como a pandemia, a crise económica e até episódios durante a campanha, que se aproxima do fim?
Com a ajuda de Pedro Magalhães, também ele cientista político, e do jornalista David Dinis (que moderaram esta conversa), os dois cientistas deram pistas importantes para entender como este ano se torna tão especial. E o que pode ainda influenciar a votação.
Mary Stegmaier, presidente da American Political Scientists Association e professora da Truman School of Public Affairs, disse que a pandemia já está a levar a um aumento substancial no número de pessoas que estão a votar antecipadamente. Isso ajudará a conseguir-se uma maior fiabilidade na altura de produzir sondagens, porque muitos americanos já terão feito a sua escolha.
No entanto, se houver uma segunda vaga que afete o próprio dia das eleições, o resultado pode afetar desproporcionalmente um dos partidos.
“Parece ser mais provável que os Democratas votem mais antecipadamente do que os Republicanos. Se entrármos numa segunda vaga da pandemia, isto poderá afetar a disponibilidade das pessoas de votarem no próprio dia, de ficarem em filas longas à espera, de interagirem com a comunidade. Pode também significar que aqueles que decidiram votar no próprio dia podem eles próprios ter COVID-19 ou estarem em quarentena por terem estado expostos.” – Mary Stegmaier.
Já Alan Abramowitz, cientista político e professor da Universidade de Emory, em Atlanta – cujo modelo previu corretamente que os Democratas recuperariam o controlo da Câmara dos Representantes nas intercalares de 2018, e que os Republicanos manteriam o controlo do Senado -, disse que este ano não incluiria nos modelos os critérios económicos, uma vez que a recessão económica foi causada deliberadamente para proteger a população.
Alan Abramowitz sublinhou ainda que a vantagem de Donald Trump teria por ser o Presidente em exercício, ou desvantagem, não pode ser medida da mesma forma que em eleições anteriores devido à sua estratégia muito particular de campanha.
“Penso que, em várias dimensões, a abordagem de Donald Trump quanto à Presidência é fundamentalmente diferente da dos anteriores Presidentes Americanos. (…) Trump, ao contrário de outros Presidentes, tem estado claramente determinado em manter a sua base de apoio dentro do seu espaço partidário, motivando a sua base e fazendo pouco, ou nenhum, esforço para expandir o seu apoio além desse [grupo].” – Alan Abramowitz.
Pode ver este debate no site da FLAD, ou nas páginas da SIC Online e do Expresso. Na próxima semana realizaremos mais um debate conjunto, que em breve anunciaremos.
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