A menos de duas semanas de irem às urnas, o debate político nos Estados Unidos está cada vez mais crispado. O que significa esta polarização e que consequências terá na votação? Veja aqui o debate promovido pela FLAD, em parceria com a SIC–Expresso, com os cientistas políticos Julia Azari e Seth Masket, com a moderação de Pedro Magalhães e Ricardo Costa.
A polarização do espectro político norte-americano tem vindo a crescer de forma significativa. Desde o ressurgimento do Tea Party, no seguimento dos protestos de 2009, que a tendência é de cada vez maior afastamento entre a esquerda e a direita política norte-americana. Nos últimos quatro anos a tendência agravou-se.
Mas a polarização não se limita à vida política. Também na sociedade se revelam divisões crescentes. Para falar sobre essa tendência, e sobre o comportamento na hora de votar dos diversos grupos que compõem o eleitorado norte-americano, a FLAD, em parceria com a SIC–Expresso, organizaram um debate com dois cientistas políticos especializados neste tema.
Julia Azari, assistant chair do Departamento de Ciência Política da Universidade de Marquette, em Milwaukee, e Seth Masket, Professor de Ciência Política e diretor do Center on American Politics da Universidade de Denver, juntaram-se aos moderadores Pedro Magalhães, investigador principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, e Ricardo Costa, diretor-geral de informação do Grupo Impresa.
Veja aqui o debate na íntegra:
“Os dois partidos estão a ficar mais zangados entre eles. (…) Democratas e republicanos nos Estados Unidos são cada vez mais diferentes, mais distantes nas políticas. Os democratas estão a mover-se para a esquerda, republicanos estão a chegar-se mais à direita. Os dois partidos estão mais ‘zangados’ um com o outro e a principal característica da polarização é esta antipatia mútua e a incapacidade de trabalharem um com o outro.” – Julia Azari, cientista política da Universidade de Marquette, em Milwaukee.
Seth Masket, cientista político da Universidade de Denver, também vê uma divisão crescente entre democratas e republicanos, mas vai mais longe e aponta para aquilo que será a maior divisão no último século e meio.
“Não se trata apenas de os partidos votarem alinhados e contra o outro partido. Também têm visões ideológicas muito diferentes, programas muito diferentes para o país, e provavelmente não estavam tão distantes um do outro desde a Guerra Civil.” – Seth Masket.
Essa polarização também se revela, embora em menor grau, no eleitorado, por razões diferentes. Julia Azari diz que há investigação que demonstra que o eleitorado democrata e republicano consomem informação de uma forma muito diferente, com os liberais a tenderem para meios menos ideológicos, e os conservadores a quase exclusivamente receberem informação através de meios vincadamente ideológicos.
Seth Masket, autor de um livro que se debruça sobre as consequências do ato eleitoral de 2016 no Partido Democrata, explicou que a escolha de Joe Biden pelos democratas como candidato presidencial se centrou demasiado numa lição que aprenderam, mas que não está baseada em factos verificáveis, que é a capacidade de ser eleito.
“[Os democratas] começaram a pensar que talvez uma candidata mulher, um afro-americano ou um candidato muito liberal não conseguiriam tantos votos. E estava lá [na corrida] Joe Biden, uma figura muito reconhecida dentro do partido e globalmente visto como ‘seguro’ – foi o termo que muitas pessoas usaram-, que não fez demasiados inimigos. Era uma escolha segura para um partido que colocou a capacidade de ser eleito acima de tudo o resto.” – Seth Masket.
As eleições presidenciais realizam-se a 3 de novembro. Esta quinta-feira, dia 22 de outubro, realiza-se o segundo e último debate entre os dois candidatos, desta vez com regras diferentes, que incluem o silenciar dos microfones dos candidatos.
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