O que move um colecionador de arte contemporânea? O que o leva a iniciar uma coleção ou a escolher uma peça de arte em detrimento de outra? Para entendermos estas questões promovemos uma conversa entre três colecionadores de arte contemporânea para um debate vivo na Central Tejo do MAAT.
Com a moderação da docente e investigadora, Ana Paula Rebelo Correia, a FLAD juntou este sábado os colecionadores António Cachola, José Correia de Lima e José Carlos Santana Pinto para conversar sobre as suas coleções de arte contemporânea e as motivações que os levam a comprar arte, o que os leva a escolher algumas obras, mas também como olham para o trabalho feito nesta área, juntamente com a presidente da FLAD, Rita Faden, e o curador António Pinto Ribeiro.
A abertura da sessão ficou a cargo da presidente da FLAD, Rita Faden, que desde o início do seu mandato assumiu o desafio de reanimar a coleção da FLAD, que tem feito com a compra de novas obras – que estava suspensa –, a abertura da coleção a artistas estrangeiros, o restauro de muitas obras e a mostra ao público, que deu o pontapé de partida com a exposição Festa. Fúria. Femina – Obras da Coleção FLAD, que está em exposição na Central Tejo do MAAT até ao final de janeiro.
“Desde início que foi para mim evidente que era necessário retomar as aquisições e tornar a coleção viva, não tendo a preocupação de preencher todas as lacunas desde que se parou [de comprar obras], mas mantendo-nos fiéis ao espírito da coleção. Mas também dá-la a conhecer. Nós temos uma responsabilidade em relação à sociedade para com a coleção que detemos.” – Rita Faden, presidente da FLAD.
Seguiu-se uma conversa animada entre os colecionadores que, de perspetivas muito diferentes, concordaram que é necessário um esforço maior para dar visibilidade e aumentar o interesse pela arte contemporânea. António Cachola, economista de formação e que iniciou a sua coleção há cerca de três décadas – e cuja coleção recebeu o Prémio “A” ao colecionismo privado em Madrid, atribuído pela Fundação ARCO – disse que desde cedo quis que a sua coleção viesse a ser apresentada na sua cidade natal, Elvas. Mas também que era necessário uma preparação para a apresentação ao público.
“Senti que, desde muito cedo, haveria de ser na minha cidade. Elvas é uma cidade muito bonita, com um património histórico, religioso, que um dia haveria de ser reconhecido nacionalmente. Esse foi o ponto de partida. [A coleção] deve ser preparada para ser apresentada ao público, porque o gosto do público é muito diversificado.” – António Cachola.
Colecionador há 40 anos, José Carlos Santana Pinto, começou por contar a história da sua primeira coleção e que o levava a fugir do seu avô e da empregada que o trazia à escola: uma coleção de caricas que encontrava no chão das tascas por onde passava no caminho para a escola.
“Tinha um fascínio enorme, porque nessa altura havia imensas marcas de coisas e eu, com sete ou oito anos, apanhei uma infeção enorme nas mãos.” – José Carlos Santana Pinto.
Desafiado pela moderadora a explicar uma frase polémica sobre o seu entendimento da arte (disse que “toda a arte é inútil”), José Carlos Santana Pinto explicou que para si, “o belo tem de ser pragmático também, tem de fazer perguntas.”
Empresário do setor do calçado oriundo de São João da Madeira, José Correia de Lima explicou que começou a colecionar arte de uma forma emocional, comprando o que gostava e admitindo que não era um perito. “Eu não percebo nada de arte contemporânea”, disse.
Mas acima de tudo, diz, a arte contemporânea tem de ser explicada, contextualizada, para que se possa perceber o seu real valor e ao mesmo tempo gerar interesse nas obras e nos artistas, algo que, a seu ver, não é feito atualmente.
“Isto tem de ser ensinado, se não for ensinado, não consegue ser compreendido. Mostrem, tragam público, a mediação é uma coisa muito importante para as pessoas começarem a aprender o que é a arte contemporânea. Isso é falta de trabalho e, no entanto, a arte contemporânea é uma coisa restrita, uma coisa de elites. Ponham nas escolas, ponham na Câmara Municipal, ponham nas ruas. Eu quando abri a minha coleção nem sabia o que estava a fazer. Eu comprei aquilo que gostava e que via, era uma questão de emoção. Quando alguém me tentava explicar um quadro eu fugia dele.” – José Correia de Lima.
O curador da exposição Festa. Fúria. Femina. – Obras da Coleção FLAD, António Pinto Ribeiro, realçou que desta conversa foi possível perceber que “não há um perfil de colecionador” e também que “não há apenas uma via de perceção artística”. António Pinto Ribeiro destacou também a necessidade de valorizar as coleções privadas e de as colocar em exposição para o público, devido à natureza distinta relativamente às coleções estatais.
“As coleções privadas são um complemento fundamental, de pessoas ou organizações, para o acesso à arte seja ela contemporânea, seja ela arte antiga. Não me parece sequer colocar-se mais a divisão entre as instituições privadas e públicas. Elas são complementares.” – António Pinto Ribeiro.
Não perca a exposição Festa. Fúria. Femina. – Obras da Coleção FLAD na Central Tejo do MAAT, até ao final de janeiro. Para mais informações, clique aqui.
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