Donald Trump não deverá retirar os Estados Unidos da NATO e não ambiciona uma América isolada do mundo, mas antes uns EUA que usam o seu poder de forma mais agressiva em várias áreas, incluindo nas disputas comerciais e para confrontar o Irão, defendeu Hal Brands, Senior Fellow no think tank American Enterprise Institute, que esteve na FLAD para a sessão “America and the World in 2025 and Beyond”.

Numa conversa moderada pela jornalista Márcia Rodrigues, editora de Internacional da RTP, o cientista político da Johns Hopkins School of Advanced International Studies vê no próximo Presidente dos Estados Unidos um defensor de uma abordagem mais transacional, e também mais agressiva no mundo.

“Donald Trump não é um isolacionista. O que Trump defende não é um cenário em que os EUA se isolam do mundo, mas sim a usar o seu poder de forma mais agressiva em várias áreas, como nas disputas comerciais, ou que os EUA devem ser mais agressivos com o Irão. A sua visão é a de uma América mais unilateral, mais disposta a utilizar o seu poder a seu favor, com ou sem aliados, uma América menos constrangida por organizações internacionais.” – Hal Brands.

Quanto ao futuro da guerra na Ucrânia, que Donald Trump prometeu acabar de imediato, Hal Brands diz que Vladimir Putin já deixou claro que não se importava de conquistar todo o território ucraniano, mas acredita que pode disponibilidade para um acordo de paz, especialmente se o Presidente russo acreditar que pode conquistar o que resto de território ucraniano mais tarde.

“Putin quer reverter o acordo do pós-guerra na Europa, um que basicamente viu os Estados Unidos expandir a sua influência no continente, enquanto a da Rússia diminuía. Putin será paciente na forma de o alcançar, e uma das razões para uma eventual abertura a um acordo de paz poderá ser porque pensa que o Ocidente vai perder o interesse na Ucrânia, e pode tentar completar a conquista mais tarde.” – Hal Brands.

Sobre a influência de Putin nas eleições, e os rumores constantes que assolam Trump desde que se candidatou pela primeira vez à Presidência dos Estados Unidos sobre o seu envolvimento com o Presidente russo, Hal Brands acredita que o objetivo de Putin é simplesmente espalhar o caos e provocar divergências dentro dos Estados Unidos, e outros países, e até termina com uma piada: “não consigo imaginar o quão difícil seria gerir alguém tão errático e indisciplinado como Donald Trump.”

Além de Professor na Johns Hopkins School of Advanced International Studies, Hal Brands é colunista da Bloomberg, e autor de vários livros, entre eles ‘The Twilight Struggle: What the Cold War Teaches Us about Great-Power Rivalry Today’ (2022), ‘The Lessons of Tragedy: Statecraft and World Order (2019)’ e ‘American Grand Strategy in the Age of Trump (2018)’. Foi special Assistant for Strategic Planning do Secretário da Defesa, Ash Carter, entre 2015 e 2016, no final da administração de Barack Obama.

 

 

Esta foi a terceira sessão do ciclo de conferências dedicado às eleições presidenciais dos Estados Unidos que a FLAD está a desenvolver com especialistas dos EUA, sobre temas relevantes para a política interna e externa daquele país e para a comunidade euro-atlântica, com o objetivo de promover o debate sobre a atualidade política americana e as implicações desta eleição dentro e fora dos EUA.

Com estas sessões, queremos contribuir para um maior conhecimento do sistema político e eleitoral americano, numa altura em que nos países europeus, e certamente em Portugal, se dedica tanta atenção à realidade política americana.

Este ciclo é uma oportunidade para investigadores, alunos, decisores políticos, diplomatas, comunicação social, analistas e o público em geral terem um contacto mais próximo com autores e especialistas internacionais de referência na área.

As sessões são moderadas pela jornalista da RTP, Márcia Rodrigues, atual editora de internacional do canal e ex-correspondente da RTP em Washington D.C., onde cobriu, entre outros, a administração de Donald Trump.

A sessão com Hal Brands decorreu no dia 11 de Novembro, no Auditório da FLAD em Lisboa.