A nossa convidada desta semana é Gabriela Canavilhas. Antiga deputada e ministra da Cultura, pianista consagrada e gestora cultura, viajou de São Miguel nos Açores para os Estados Unidos quando era ainda uma criança, dois anos da sua vida que a marcariam. É membro do Conselho de Curadores da FLAD.
Tinha apenas 7 anos quando saiu de São Miguel para Nova Inglaterra, nos anos 60. Por lá viveu dois anos, mas foi o suficiente para a América passar a ser parte de quem é, dos seus gostos e interesses.
Fez do piano a sua vida durante quase duas décadas, gravou vários discos, tocou em algumas das principais cidades mundiais – incluindo Nova Iorque –, onde apresentou a música portuguesa, até que passou a ser gestora cultura. Foi diretora-geral de cultura nos Açores, ministra da Cultura entre 2009 e 2011 e deputada do Partido Socialista. É membro do Conselho de Curadores da FLAD.
Nestas Atlantic Talks, Gabriela Canavilhas fala sobre a ligação próxima entre o Arquipélago dos Açores e os Estados Unidos.
“É uma relação telúrica, porque tem a ver com a geografia, tem a ver com a natureza e tem a ver também com a tradição. Há uma pequena diferença também dependendo das ilhas. Os Açores são nove ilhas, e apesar de terem uma cultura hegemónica, têm também a particularidade de terem nove pequenas culturas, porque ao longo de séculos foram culturas muito fechadas em si próprias, a comunicação entre elas só muito recentemente é que se abriu.” – Gabriela Canavilhas.
A pianista e gestora cultural explica que o imaginário americano acaba por ficar “impregnado nas famílias”, especialmente em ilhas como o Faial e o Corvo, por serem ilhas fundamentais nos interfaces de comunicação e onde começou verdadeiramente a imigração.
“Não há nenhuma criança nos Açores que hoje em dia diga pastilha elástica, é a gama, vem de gum em americano. Há uma certa incorporação quer no linguajar, no aportuguesamento de certas palavras, ninguém diz ténis nos Açores, são os sneakers, e as sweaters. (…) O imigrante Açoriano em regra não regressa, vai e não volta. O que é que ele faz? Ele manda cartas, ele visita de vez em quando, não visita muito, e cria uma relação de saudade, uma relação epistolar, e normalmente é a família Açoriana que visita os EUA e regressa.” – Gabriel Canavilhas.
Sobre a cultura, a sua paixão e onde fez carreira – artística e política – , Gabriela Canavilhas explica como a cultura americana conseguiu impôr-se na Europa, tal como aconteceu em Portugal, ao que era maioritariamente francófona, e como o capitalismo americano acabou por fazer bem sucedida uma cultura que na Europa tende a ser deficitária em termos financeiros.
“Eles apreenderam todas essas transformações filosóficas e estéticas da Europa e souberam, graças aos clusters académicos americanos, transformar isto numa nova linguagem filosófica e num novo pensamento estético e intelectual que é já de origem americana. A marca distintiva dos Estados Unidos é o capitalismo, e o capitalismo conseguiu fazer aquilo que a Europa não conseguiu, que é pôr a cultura a render.” – Gabriela Canavilhas.
Não perca o novo episódio das Atlantic Talks, já disponível onde normalmente ouve os seus podcasts. Pode também encontrar este episódio nos links abaixo.
Posts Relacionados
18 de Novembro, 2024
Portugal acolheu maior número de estudantes americanos de sempre em 2022/2023
Aumento de quase 60% no número de…
15 de Novembro, 2024
Candidaturas Abertas: Bolsas para Residências Artísticas nos EUA 2025
Artistas entre os 25 e 35 anos que…
1 de Novembro, 2024
Candidaturas Abertas: Bolsa Fulbright para Investigação com o apoio da FLAD 2025/2026
Apoio a alunos de mestrado que queiram…