A perceção dos países europeus da ameaça que a Rússia representa vai se diluindo à medida que a distância para Moscovo aumenta, avisa Ian lesser, distinguished fellow do German Marshall Fund, que deixa ainda outro aviso: as sociedades europeias não estão conscientes e preparadas para o uso da força. Quanto ao futuro da política externa americana caso Donald Trump volte a vencer as eleições presidenciais em novembro, o tempo e a experiência podem trazer uma administração muito diferente.

Conselheiro da Presidente do German Marshall Fund of the United States, e responsável pela delegação de Bruxelas do GMF e pelo programa GMF South, um programa abrangente dedicado à investigação e análise dos desenvolvimentos no sul da Europa, Turquia e Mediterrâneo, Ian Lesser esteve na FLAD para a primeira sessão do novo ciclo de conferências dedicadas às eleições presidenciais dos EUA do próximo dia 5 de novembro, que foram apresentadas pelo Presidente da FLAD, Nuno Morais Sarmento.

“Esta é a primeira sessão da nova série de conferências dedicada às próximas eleições presidenciais dos EUA, que decorrem em Novembro, que a FLAD decidiu organizar. A ideia é durante o próximo mês receber personalidades americanas de várias áreas, para ouvirmos a sua perspetiva sobre a situação interna dos Estados Unidos e a sua expetativa sobre o futuro da política externa americana.” – Nuno Morais Sarmento, Presidente da FLAD

Na conversa moderada pela editora de internacional da RTP, Márcia Rodrigues, Ian lesser deu a sua perspetiva enquanto especialistas em relações internas, mas também como americano que vive há décadas na Europa. Em primeiro lugar, elogiou a administração de Joe Biden, como sendo a mais centrada na Europa das últimas décadas – nem Donald Trump, nem Barack Obama antes dele – deram um papel tão central à relação transatlântica. Mas isso pode, e deverá mesmo mudar depois das próximas eleições. Por outro lado, a capacidade da Europa de agir contra a Rússia, que vê mais como um intermediário, do que como um ator.

“Uma coisa é construir e investir nas indústrias da defesa, outra completamente diferente o uso da força, recuperar o serviço militar obrigatório e todas as outras coisas que a Europa pensava que se tinha livrado de vez. Vivendo na Europa, não estou certo que as sociedades europeias estejam completamente preparadas para isso.” – Ian Lesser.

Sobre uma administração Donald Trump, o responsável do German Marshall Fund diz que não acredita que se for eleito, Donald Trump irá tirar os Estados Unidos da NATO como fez Charles de Gaulle com a França em 1966, mas que poderá certamente tornar a capacidade de operar a aliança muito difícil para todos os seus membros.

Quanto ao futuro da política externa americana numa eventual administração Trump, Ian Lesser alertou para a importância das nomeações para cargos políticos em matérias de defesa, política externa e serviços de informação e inteligências. Há oito anos, Donald Trump “não estava à espera de ser eleito”, o que levou a que as nomeações fossem um misto de moderados e outros menos. Desta vez, com maior preparação e ideias do que se pode acontecer, espera-se que para estes cargos sejam nomeadas pessoas que defendem políticas mais radicais. “Será mais previsível ou menos? Não sei dizer.”

Esta foi a primeira sessão de um ciclo de conferências dedicado às eleições presidenciais dos Estados Unidos que a FLAD vai desenvolver nos próximos meses com especialistas dos EUA, sobre temas relevantes para a política interna e externa daquele país e para a comunidade euro-atlântica, com o objetivo de promover o debate sobre a atualidade política americana e as implicações desta eleição dentro e fora dos EUA.

Com estas sessões, queremos contribuir para um maior conhecimento do sistema político e eleitoral americano, numa altura em que nos países europeus, e certamente em Portugal, se dedica tanta atenção à realidade política americana.

Este ciclo é uma oportunidade para investigadores, alunos, decisores políticos, diplomatas, comunicação social, analistas e o público em geral terem um contacto mais próximo com autores e especialistas internacionais de referência na área.

As sessões serão moderadas pela jornalista da RTP, Márcia Rodrigues, atual editora de internacional do canal e ex-correspondente da RTP em Washington D.C., onde cobriu, entre outros, a administração de Donald Trump.