A convidada desta semana nas Atlantic Talks é Mónica Ferro, doutorada em Relações Internacionais e professora no ISCSP, da Universidade de Lisboa, até que deixou Portugal, em 2017, para chefiar o Escritório de Genebra do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA).
Mónica Ferro é diretora em Genebra do Fundo da ONU de apoio à população, desde que deixou o Parlamento, onde era deputada do PSD e onde chegou a ser vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD e coordenadora do Grupo Parlamentar Português sobre População e Desenvolvimento.
No novo episódio das Atlantic Talks, a responsável da ONU fala com o jornalista Filipe Santos Costa sobre os atuais movimentos cívicos de defesa de direitos humanos – como o Black Lives Matter e o Me Too –, com origem nos Estados Unidos, e como a partir daí estas lutas têm feito eco noutras partes do mundo.
Mesmo que as causas destas desigualdades não sejam novas e/ou exclusivamente americanas, Mónica Ferro evidencia a importância dos Estados Unidos para a propagação destes movimentos sociais, pela sua posição central enquanto líder das democracias liberais e firmes defensores da agenda de direitos humanos.
“A natureza extremamente associativa dos Estados Unidos, o trabalho voluntário que é algo tão enraizado na cultura norte-americana, é uma realidade muito distante da realidade Europeia. (…) É algo que faz com que estes movimentos, muitas vezes inorgânicos, que surgem espontaneamente, passem da fase de emergência. Nós temos muitos movimentos que não passam esta fase inicial de tomada de consciência.” – Mónica Ferro.
Por norma, os movimentos cívicos são marcas que nos chegam dos Estados Unidos. Mesmo que se apresentem como a locomotiva das democracias liberais, existe, ainda nos dias que correm, uma parte da população norte-americana que luta contra a discriminação, seja com base na cor da pele, na orientação sexual, no género, ou noutros fatores de divisão.
“Todos os movimentos em favor dos direitos sexuais, os movimentos LGBT, que são também uma parte importante do nosso trabalho, os movimentos a favor da justiça reprodutiva, entre outros, estes movimentos agora liderados por mulheres afro-americanas, latino-americanas, asiática-americanas, nasceram nos Estados Unidos.” – Mónica Ferro.
A diretora do UNFPA explica a proporção global destes novos movimentos sociais por se relacionarem com causas de injustiça que nos tocam a todos. Causas que apesar de não afetarem diretamente todos os membros da sociedade, existe uma consciência de que esse mal social não deveria existir, como foram os casos de racismo e violência policial de George Floyd, Breona Taylor e Ahmaud Arbery, nos Estados Unidos.
“Estes movimentos surgem como resposta a um mal social que é identificado, com o qual nós nos identificamos, (…) mas também em muitos destes movimentos não há uma identificação com eles, mas sim uma consciência de que há um mal social, e que nós, em conjunto, temos o poder para o mudar.” – Mónica Ferro.
Sobre os direitos humanos e as questões fraturantes em volta das migrações, Mónica Ferro, relembra que este grupo populacional contribui, em muito, para as sociedades ocidentais, e não só, tanto em termos financeiros como demográficos.
“Em Portugal foi sempre o caso, e em maior parte dos países europeus será o caso também, os imigrantes são contribuintes líquidos para a segurança social, ou seja, dão mais à segurança social do que aquilo que retiram da segurança social, e têm sido uma força importante, em Portugal e noutros países, por exemplo para controlar o decréscimo de natalidade que muito países europeus estão a sofrer.” – Mónica Ferro.
Não perca o novo episódio das Atlantic Talks, já disponível onde normalmente ouve os seus podcasts. Pode também encontrar este episódio nos links abaixo.
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