Como será o futuro das artes visuais neste “novo normal”? Qual foi o impacto da pandemia na produção e na oferta artística? Pode o futuro passar exclusivamente pelo online?
O “What’s next… how the pandemic changed visual arts” juntou esta quinta-feira, dia 18 de junho, um painel de luxo para um debate vivo sobre o futuro do setor, com a participação da Professora Universitária Helena Barranha, da Artista Visual Leonor Antunes, da Galerista Vera Cortês, e do Economista e Fundador da AiR 351, Luís Campos e Cunha. Este debate foi moderado pelo Jornalista Filipe Santos Costa.
A partir de diferentes pontos de vista, os participantes discutiram o impacto da pandemia nas artes visuais, nomeadamente acerca dos processos de digitalização das instituições culturais a que o confinamento obrigou, do estado dos mercados e das consequências que se começam a fazer sentir.
Helena Barranha defendeu a importância dos artistas, um valor associado à capacidade de se criarem cenários e se reinterpretarem realidades de maneira a ser possível superar problemas e encontrar soluções. Assume que é um sector muito afectado pela pandemia, pela vulnerabilidade estrutural que o define.
“Como sociedade temos de encontrar formas de apoiar os artistas, que não só nos apoiaram disponibilizando as suas obras online, mas também porque nos ajudam a pensar em novos modelos de sociedade.” – Helena Barranha.
Já para a artista Leonor Antunes, a pandemia acabou por resultar numa sensação de alívio e face à necessidade de um processo de desaceleração e de uma melhor gestão de recursos que resulte numa forma mais sustentável de produzir e de estruturar o mercado de arte. A artista defendeu uma limpeza quantitativa e qualitativa do sector, considerando que há demasiados eventos e produção, o que leva a um excesso de produção, mas não necessariamente de qualidade.
“Há feiras a mais, bienais a mais e há demasiada produção artística.” – Leonor Antunes
Numa coisa todos estão de acordo: nenhuma experiência digital conseguir substituir a experiência da obra de arte.
No entanto, a implementação, que diversos museus já começaram a actualizar, tanto de repositórios digitais como de práticas curatoriais não presenciais, é muito entusiasmante, tendo-se chegado a públicos, durante a pandemia, que nunca se tinham alcançado.
Do ponto de vista da galeria, a Vera Cortês fala-nos de uma mudança de paradigma que tem acontecido desde Março, a nível de reformulação das estruturas conhecidas, mas também de um apoio e de uma entreajuda tanto entre artistas e galerias, mas também entre coleccionadores e galeristas, que a surpreendeu.
“Vocês estão a pensar que nós vamos viver assim para sempre? É que eu não acredito nisso. Eu não quero acreditar que não vai voltar a haver inaugurações.” – Vera Cortês
Sobre os mercados primário e secundário percebem-se diferenças entre a crise actual e a anterior crise económica de 2008, uma vez que, como explicou Luís Campos e Cunha, não houve um abrandamento total dos dois mercados. E estes mercados, funcionando em cadeia, acabam por se estimular reciprocamente. Há uma sensação de que a pandemia vai alterar profundamente a forma como os artistas trabalham e produzem, numa prática mais simples e densa e menos espectacular.
“Até há bem pouco tempo o museu de arte contemporânea era uma Disneyland para adultos (…) que julgo que vai tender a desaparecer. Voltamos para um tempo mais simples, um tempo mais espartano. Será certamente mais arte.” – Luís Campos e Cunha
Apesar de todas as consequências que destes últimos meses advêm, a vontade é a de retirar algum conhecimento e aprendizado da situação e perceber o é que as instituições culturais devem construir a partir daqui e que ferramentas é que as artes visuais estão a desenvolver para superar o actual constrangimento, repensando no futuro com optimismo e resiliência.
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