Nas eleições presidenciais norte-americanas, o princípio igualitário “uma pessoa, um voto” não implica que a vontade de todos os eleitores tenha um peso idêntico. Os efeitos do colégio eleitoral, da demografia e da polarização política levam a que em 44 dos 50 estados – que juntos somam 86% dos 538 votos em disputa – restem poucas dúvidas de quem virá a arrecadar os respetivos votos em Novembro. É provável que Trump seja o candidato mais votado no Indiana e no Tennessee e que Biden arrecade os votos em disputa no Maryland e no Colorado.

As atenções voltam-se assim para o conjunto de estados onde fatores de índole local e nacional contribuem para que os resultados sejam neste momento mais difíceis de antecipar: Nevada (NE), Arizona (AZ), Wisconsin (WI), Michigan (MI), Pensilvânia (PA) e Geórgia (GA). No total, são 77 votos no colégio eleitoral – uma fatia do bolo que seria sempre apetecível, mas que é agora verdadeiramente preciosa para os dois partidos. Como ilustram o mapa e a tabela abaixo, trata-se de um conjunto de estados diverso no plano geográfico, social, económico e demográfico. Biden triunfou em todos em 2020, mas só num deles é que Trump não ficou à frente de Hilary Clinton em 2016.

 

 

 

Poucos segmentos da população americana são objeto de tantas radiografias políticas como os eleitores de estados competitivos em ano de presidenciais, e as estimativas apontam que são cerca de 6% os eleitores destas regiões que ainda não sabem em quem votar. É tentador supor que venha a ser esta pequena minoria (apenas 1% dos eleitores americanos) a decidir o desfecho a eleição. Mas será mesmo assim?

Na verdade, os responsáveis pelas campanhas não tentam apenas persuadir indecisos. Tão ou mais importante é garantir a mobilização da sua própria base de apoio e quebrar os laços entre os oponentes e os seus eleitores, de modo que estes se abstenham. Há naturalmente riscos: lançar na esfera pública argumentos para a captação de eleitores indecisos pode dar combustível à campanha adversária nos seus esforços de mobilização. Assim, perceber quem vota em quem e quem se abstém é uma das chaves para a construção de campanhas eficientes e cada vez mais dirigidas à (des)mobilização de públicos-alvo identificados com precisão crescente.

O gráfico abaixo indica as probabilidades de eleitores com diferentes atributos se terem abstido ou votado num dos dois principais candidatos em 2020. Em termos relativos, quem mais apoiou Trump foi a população branca sem formação superior e a principal base eleitoral de Biden foram as minorias (com e sem curso superior). Quem mais se absteve foram as minorias sem curso superior. As implicações eleitorais destes cruzamentos entre identidade étnica e educação não são estáticas: se antes eram os democratas que obtinham melhores resultados em eleições mais participadas, investigação recente mostra que a reconfiguração do voto dos brancos com níveis mais baixos de instrução leva a que sejam hoje os republicanos a beneficiar de eleições altamente participadas.

 

Em conclusão: ao longo dos próximos meses, muitos recursos financeiros, televisivos, tecnológicos e retóricos serão despendidos na tentativa de atrair os eleitores indecisos destes seis estados. Contudo, tanto para Republicanos como para Democratas, a persuasão de novos eleitores não pode levar à alienação das respetivas bases eleitorais. E será de esperar que ambas as campanhas procurem fomentar a participação de grupos que à partida lhes serão favoráveis, como os eleitores brancos sem curso superior na Geórgia que podem aumentar as hipóteses de vitória de Trump, e as minorias também sem educação superior no Nevada e no Arizona capazes de ajudar Biden. A chave para a vitória residirá neste equilíbrio entre a persuasão de indecisos e a mobilização de bases.