Saiu da Califórnia nos anos 90, em busca de um país onde pudesse respirar, pensar e falar noutros temas além da epidemia da SIDA que afetava o país. Depois de perder o irmão, mudou-se para Portugal, onde encontrou um país mais pobre, mais isolado, parado no tempo, mas que lhe deu o novo rumo que procurava. “O Porto salvou-me a vida, Portugal salvou a minha sanidade mental.” O escritor Richard Zimler é o nosso convidado desta semana das Atlantic Talks.

Nasceu em Nova Iorque, viveu na Califórnia e mudou-se para o Porto, a cidade que diz ter salvo a sua vida. Quando saiu da Califórnia, nos anos 90, o único tema de conversa era a SIDA. Depois da morte do seu irmão, tornou-se tudo demasiado e foi assim que surgiu a mudança para o nosso país, onde viria a estabelecer a sua vida.

“Nos anos 90, quando mudámos para o Porto, eu precisava de um país onde o único tema de conversa não fosse SIDA. Na Califórnia nessa altura, todos nós perdemos amigos e familiares, ninguém falava de outra coisa. Depois da morte do meu irmão, eu não consegui lidar com isso. Precisava de estar noutro sítio. O Porto salvou-me a vida. Portugal salvou a minha sanidade mental. Porque eu podia falar de outras coisas, de futebol, de arte, da minha escrita.” – Richard Zimler

https://soundcloud.com/user-873406942/richard-zimler-atlantic-talks-2-temporada/s-5V7qzllz8PV?si=aef638d9b4934c31af65ee156c6f5127

Portugal era então um país muito diferente, diz. Mais pobre, mais isolado, onde se notava um lapso de tempo enorme em relação aos acontecimentos no estrangeiro, e em que falar de certos assuntos, como a homossexualidade, era tabu. Em parte foi uma benção, que o ajudou a recuperar do peso que trazia com a morte do irmão e da epidemia da SIDA que se vivia na Califórnia.

Por outro, a falta de abertura fez com que só publicasse este ano em português, 25 anos depois de ter sido editado nos Estados Unidos, a sua obra Insubmissos, um romance que reflete a sua vivência nesse contexto difícil nos Estados Unidos.

“Nessa altura falar de certos assuntos era tabu, como a homossexualidade de um jovem músico do Porto, a relação péssima com o pai que não aceitava. Portugal era um país parado no tempo”. – Richard Zimler.

Desde então muito mudou. Em Portugal e nos Estados Unidos, ao ponto de o escritor se dizer perturbado com o quão longe chegou a polarização nos Estados Unidos e o quão diferente é do país onde cresceu.

“Vi na televisão ontem que houve uma sondagem da Universidade do Virgínia que perguntava às pessoas se gostariam de ver dois Estados Unidos: um azul e um vermelho. Uma secessão. Acho que qualquer coisa como 45% disseram que sim. Gostariam de ver por exemplo Mississippi, Alabama, Arkansas, num outro país. Às vezes pergunto-me para onde foram os Estados Unidos da minha infância? Não sei.”

O escritor fala ainda de como os novos movimentos de identidade estão a seguir um caminho de exclusão, quando deveria ser de inclusão, e como atacam quem possa discordar das suas posições.

“O meu medo dos novos movimentos de identidade é que qualquer pessoa que discorde deles, é atacado logo. Não há qualquer paciência. Para mim o que é importante é formar uma frente unida, nos Estados Unidos, na Polónia, em Portugal, contra a extrema-direita, mas quando nós excluímos heterossexuais de qualquer movimento homossexual, ou excluímos brancos de qualquer movimento negro, isso tem a tendência de abrir a porta aos radicais de direita.”- Richard Zimler.

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