No passado dia 14 de março, a FLAD recebeu mais uma edição do ciclo de conferências Democracy: The Way Ahead, subordinada ao tema da segurança europeia. Para esta conversa, a FLAD convidou os especialistas europeus Cathryn Clüver Ashbrook, senior advisor da Bertelsmann Stiftung, e Bruno Tertrais, Deputy Director da Fondation pour la recherche stratégique (FRS). A conversa foi moderada por Julia De Clerck-Sachsse, visiting senior fellow do German Marshall Fund of the United States.
Dois anos corridos da guerra na Ucrânia, muito mudou no panorama de segurança da Europa. Um novo conflito no Médio Oriente, tensões acrescidas com a Rússia e incerteza sobre o compromisso do maior aliado com a NATO em virtude das eleições presidenciais de novembro. Por tudo o que está em causa, a FLAD organizou a sessão ‘The Future of European Security’.
Uma parte importante desta sessão acabou por se render ao tema das eleições americanas de novembro, com dois candidatos e agendas conhecidos a um nível mais profundo do que em qualquer outra eleição na história dos Estados Unidos.
Cathryn Clüver Ashbrook, senior advisor da Bertelsmann Stiftung, e cientista política com dupla nacionalidade alemã e americana, sublinhou o período inédito na vida das democracias liberais e as mudanças tectónicas que se sentem na ordem mundial criada no pós-guerra, em que partes desse mesmo sistema estão ativamente a tentar desmantelá-lo, mesmo que implique perdas para as suas economias.
“Não faz qualquer sentido abandonar o FMI, não faz sentido abandonar o Banco Mundial, se a ideia é preservar empregos americanos. As tarifas contra a União Europeia vão destruir diretamente, no imediato, 500 mil empregos. Estas ideias são baseadas em ideologia, e em algo mais perigoso, que são emoções. É uma narrativa de emoções que ele [Trump] pode vender a um grupo de eleitores americanos frustrados, distópicos, e pessimistas” – Cathryn Clüver Ashbrook
O maior problema, do lado das democracias, diz, é o vazio de liderança que se observa, e que será ainda mais pronunciado com as eleições deste ano, nomeadamente nos EUA e na União Europeia: “o problema é a incapacidade das democracias para responder com a necessária coesão. Estamos à beira de um abismo muito perigoso.”
Já Bruno Tertrais, Deputy Director da Fondation pour la recherche stratégique (uma das mais importantes instituições de Relações Internacionais em França), relativizou as queixas americanas quanto ao incumprimento dos países europeus em executar anualmente os níveis de investimento em defesa acordados na NATO.
“Os americanos queixam-se de que os Europeus não gastam o suficiente [em Defesa] desde os objetivos de Lisboa de 1950. (…) Esta conversa dura há décadas” – Bruno Tertrais.
O responsável francês apresentou uma versão mais realista do que é a razão de ser da NATO, explicando que o contrato implícito é que a maior parte dos americanos “razoáveis” quer estar envolvido na Europa, “não porque nos amam, mas porque é do seu próprio interesse. As fundações da NATO foram sempre mais baseadas em interesses do que em valores.”
A NATO funciona devido à liderança americana, algo que custa a admitir a um francês como ele, gracejou, porque “se os EUA não liderassem, acredito que coletivamente não fossemos capazes de ser suficientemente adultos para chegar a um consenso. Sem os Estados Unidos, a NATO não é NATO.”
O ciclo Democracy: The Way Ahead é uma iniciativa da FLAD que tem como objetivo promover um espaço de reflexão e debate sobre as atuais problemáticas com que se depara a comunidade euro-atlântica, e, com recurso a especialistas internacionais, procurar soluções para as próximas décadas.
No âmbito deste ciclo, a FLAD recebeu John Ikenberry, Professor na Universidade de Princeton, e Constanze Stelzenmüller, diretora do Center on the United States and Europe da Brookings Institution, os jornalistas Peter Baker (New York Times) e Susan Glasser (New Yorker), e os especialistas em relações internacionais Robert Kaplan, Walter Russell Mead e Kori Schake.
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