A nossa convidada desta semana é Susana Peralta, dourotada em economia pela Université Catholique de Louvain, na Bélgica, professora associada na NOVA SBE e colunista do jornal PÚBLICO, numa conversa centrada no complexo e vasto tema da desigualdade, do qual se tornou uma das vozes mais audíveis em Portugal.
É um tema tão importante, quanto complexo. Isso faz com que as vozes com autoridade para falar sobre ele, pelo menos em Portugal, também sejam reduzidas. Susana Peralta é uma das economistas com maior destaque mediático nos últimos anos, tendo as suas colunas no jornal PÚBLICO tornado-se em leitura obrigatória.
Na edição desta semana das Atlantic Talks, a economista centra a discussão nesse mesmo tema: as desigualdades. Susana Peralta sublinha que, de acordo com vários rankings, os Estados Unidos são apontados como um dos países com maiores índices de desigualdade entre os chamados países desenvolvidos. No entanto, muito disto também se deve a uma capacidade de recolha e tratamento de dados, que não existe em países europeus, como é o caso de Portugal.
“Acho que devemos tirar o chapéu aos Estados Unidos, é muito importante nós dizermos isto. Até pode ser o país mais desigual, mas a verdade é que nós também temos um conhecimento da desigualdade, até por exemplo na dimensão étnica, nos Estados Unidos. Em Portugal, não temos maneira de saber qual é a verdadeira dimensão da desigualdade de base étnica porque estamos proibidos de perguntar às pessoas a etnia. Esse debate existiu para estes censos que vêm para 2021, não passou. Ficou prometido um inquérito, que também ainda não saiu. O INE aparentemente está a trabalhar nisso, mas nós não temos dados para caracterizar isso. E nos Estados Unidos temos.” – Susana Peralta
A capacidade de um país de recolher esses dados e de os tratar permite-lhe ter um melhor conhecimento da sua própria realidade, mas também o expõe a ataques, devido aos resultados que, a ver da economista, não deixa de ser um pouco hipócrita.
“Há uma certa hipocrisia quando estamos sempre a dizer ‘olhem para a desigualdade nos Estados Unidos e tal’. Está bem, mas eles podem quantifica-la, os ingleses podem quantifica-la. Puderam quantificar, por exemplo, agora as enormes disparidades na mortalidade da pandemia nas populações de minorias étnicas nos EUA e no Reino Unido. E nós, na Europa continental, não podemos, porque ninguém nos deixa recolher os dados, portanto isso é muito hipócrita.” – Susana Peralta.
Para a economista, o conhecimento das diferenças entre a população são também um indicador de uma sociedade mais aberta, que convive melhor com o debate.
“Há uma grande tradição de maior abertura. Acho também que são sociedades que convivem melhor com o debate, com o debate de ideias e que também estão mais habituados às ideias dos checks and balances. Para teres os checks and balances, tens de ter uma grande tradição de abertura.” – Susana Peralta.
Pode ouvir mais esta edição das Atlantic Talks onde normalmente ouve os seus podcasts, ou siga um dos links abaixo.
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