No passado dia 8 de novembro, os americanos votaram nas eleições intercalares, as primeiras da Presidência de Joe Biden e um prelúdio para a próxima eleição presidencial, que acontece já em 2024.
A maioria dos votos estão contados, mas há ainda questões importantes por definir no Congresso dos EUA. O fim de semana trouxe boas notícias para o Partido Democrata, que com vitórias nos Estados do Arizona e do Nevada conseguiram garantir a maioria no Senado. Já na Câmara dos Representantes, a vantagem continua do lado do Partido Republicano, mas ainda é cedo para declarar um vencedor.
Chegou a falar-se numa red wave (uma onda republicana), devido à preocupação de grande parte dos eleitores com as taxas de inflação elevadas, o aumento da criminalidade, e por historicamente o Presidente em funções ser penalizado nas intercalares. A baixa taxa de aprovação de Joe Biden alimentava as esperanças dos republicanos, mas a decisão histórica de reverter o Roe v. Wade, e alguns sucessos legislativos do Partido Democrata levaram a uma mobilização significativa do eleitorado democrata, como o eleitorado mais jovem.
O Partido Democrata renova (e ainda pode reforçar) a maioria no Senado. Na Câmara dos Representantes, caso o Partido Republicano vença os cinco lugares de que necessita para o controlo, o que ainda não é certo, será por uma pequena margem, inferior ao normal nas eleições intercalares.
Senado
Como explicámos aqui, foram a votos 35 lugares para o Senado. O Partido Republicano precisaria de pelo menos 51 senadores para ter maioria no Senado; ao Partido Democrata bastava que houvesse 50 senadores democratas para controlar a câmara alta do Congresso, porque, em caso de empate, a Vice-Presidente, Kamala Harris tem o voto decisivo.
Até sexta-feira, a vitória era ainda incerta, com os resultados por apurar em Estados onde as corridas foram muito próximas, em que a pequena margem de diferença entre candidatos ainda não permitia declarar vencedores. Estes são Estados cruciais para vencer eleições, já que não se prevê, antes do ato eleitoral, uma vitória confortável de nenhum dos partidos.
No final do dia de sexta-feira (já madrugada de sábado em Portugal), foi declarada vitória do democrata Mark Kelly na corrida para senador no Arizona contra o republicano Blake Masters , que contou com o apoio de Donald Trump,.
Um dia depois, no Nevada, o republicano Adam Laxalt, também apoiado por Trump, perdeu a ligeira vantagem que tinha sobre a candidata democrata Catherine Cortez Masto na reta final da contagem dos votos, permitindo assim aos democratas assegurar a vantagem na câmara alta do Congresso para os próximos dois anos.
O que falta saber?
Neste momento, os Democratas têm 50 lugares assegurados e os republicanos apenas 49. Este número é suficiente para dar uma maioria aos democratas. Resta agora saber quem irá vencer na Georgia. Caso seja o Partido Republicano, não será suficiente para dar o controlo do Senado a este partido. Caso vença o Partido Democrata, este terá uma maioria mais confortável do que nos últimos dois anos, retirando margem negocial a alguns senadores dentro do próprio partido.
Na Georgia, o democrata Raphael Warnock ficou à frente de Herschel Walker, candidato republicano apoiado por Trump. No entanto, não foi suficiente para assegurar os 50% dos votos necessários para a vitória que as regras deste Estado exigem. Assim, os dois candidatos vão a uma segunda volta no próximo dia 6 de dezembro.
No Alasca, a disputa agora é entre duas candidatas republicanas, as mais votadas na primeira volta de contagens. Isto é possível porque o Alasca adotou um sistema de ranked choice, em que os eleitores ordenam os candidatos por ordem de preferência, em vez de selecionarem apenas um. Quando nenhum candidato obtém 50% na primeira contagem (de primeiras escolhas), como foi o caso, há nova contagem, excluindo o candidato menos escolhido como primeira opção. Nos boletins de voto em que a primeira escolha foi a do candidato eliminado, os votos vão ser atribuídos à segunda escolha. Este processo repete-se até que um candidato obtenha a maioria.
Resultados importantes
Trump não foi a eleições, mas vários candidatos em corridas cruciais (corridas em que os dois partidos tinham boas hipóteses de ganhar) apoiados por si saíram derrotados.
Uma das derrotas mais significativas do Partido Republicano na noite eleitoral foi a de Mehmet Oz na Pensilvânia. A personalidade da televisão americana conhecido como Dr. Oz foi apoiada pelo antigo presidente Donald Trump, mas perdeu para o opositor democrata John Fetterman, até agora vice-governador deste Estado. Foi uma vitória importante para os democratas porque este lugar é atualmente ocupado por um republicano, o luso-americano Pat Toomey, que não se recandidatou.
Outros Estados competitivos, como o New Hampshire e o Colorado, foram ganhos pelos democratas. Os republicanos elegeram senadores no Wisconsin, na Carolina do Norte e no Ohio. Neste último Estado, o candidato que ganhou foi JD Vance, apoiado por Trump.
Os resultados dos candidatos apoiados por Trump, não apenas para o Senado, mas também para a Câmara dos Representantes e para o lugar de Governador, têm sido muito referidos pelos analistas por nos darem alguns dados sobre o futuro do Partido Republicano e dos seus cálculos para nomeação do candidato às presidenciais em 2024.
Câmara dos representantes
Os 435 lugares na Câmara dos Representantes foram a votos nestas intercalares. Num artigo anterior, explicámos porquê e qual a importância do controlo desta Câmara. Para isso, um partido precisa de vencer em 218 distritos, obtendo a maioria dos lugares. Neste momento, os votos estão a ser contados e ainda não é certo qual dos partidos conseguirá a maioria, com cerca de 15 congressistas por apurar. No início do dia de segunda-feira em Portugal, o Partido Republicano está à frente na corrida.
Governadores
Das 36 corridas para governador, os candidatos do Partido Democrata e do Partido Republicano venceram, até à data, o mesmo número de corridas: 17. Falta apurar os resultados no Arizona e no Alasca. Neste último Estado, o incumbente republicano lidera a corrida com um margem confortável, mas ainda não suficiente para declarar vitória.
A corrida que está a ser mais seguida no momento é a do Arizona, onde Katie Hobbs, candidata democrata, se encontra na liderança contra a republicana Kari Lake (apoiada por Trump), mas com uma vantagem pequena. Os votos ainda estão a ser contados.
Não foi apenas no Senado que as eleições no Estado da Pensilvânia correram mal para os republicanos – e em particular para Trump. Na corrida para governador, Josh Shapiro derrotou Doug Mastriano, apoiado pelo antigo presidente. Tal como Trump, Mastriano não reconhece a legitimidade do resultado eleitoral de 2020, o que é particularmente relevante porque na Pensilvânia o cargo de Secretário de Estado, responsável pela administração das eleições no Estado, não é eleito, mas nomeado pelo governador.
Já Brian Kemp, governador da Georgia, assegurou a reeleição contra a democrata Stacey Abrams. É significativo porque Brian Kemp, sendo republicano, recusou reverter o resultado da eleição presidencial no Estado da Georgia em 2020, e porque Stacey Abrams era apontada como parte do futuro do Partido Democrata. Tendo agora perdido duas eleições contra Brian Kemp, esse futuro não é tão claro.
No Kansas, a incumbente democrata Laura Kelly derrotou o adversário republicano Derek Schmidt, que contava com o apoio de Trump. No Wisconsin, Tim Michels saiu derrotado, também significativo tendo em conta a afirmação controversa do então candidato Michels, que afirmou que o Partido Republicano não voltaria a perder eleições naquele Estado caso fosse ele o escolhido pelos eleitores.
Por fim, o elefante na sala: Ron de Santis, governador da Florida, sai reforçado deste ato eleitoral. Assegurou a sua reeleição com uma margem confortável e é um dos nomes apontados para disputar a nomeação do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos em 2024.
Como se saíram os legisladores de ascendência portuguesa nestas intercalares?
Os três congressistas de ascendência portuguesa foram a votos, bem como muitos dos legisladores estaduais de ascendência portuguesa. Além disso, vários cargos eleitos ao nível local foram também decididos nesta eleição.
Lori Trahan, democrata do Massachusetts, foi reeleita para representar o 3º Distrito na Câmara dos Representantes dos EUA. Os restantes congressistas que foram a votos são eleitos pela Califórnia, onde ainda não há resultados finais. Jim Costa, do Partido Democrata, e David Valadao, do Partido Republicano, lideram as respetivas corridas, mas com muitos votos ainda por apurar.
Também nas assembleias locais concorreram vários políticos de ascendência portuguesa. Quase 30 foram reeleitos em Estados com grande presença portuguesa, como Rhode Island, Massachusetts, Connecticut e Califórnia, mas também na Pensilvânia. Temos ainda novos senadores e representantes estaduais, em estados tão diferentes como Massachusetts, Havai e Nova Iorque.
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